António Venâncio, pré-candidato à presidência do MPLA para as eleições partidárias de 2026, fez duras críticas à recente deliberação do Comité Central do partido, que aprovou mudanças estatutárias que, segundo ele, visam fortalecer o poder do atual presidente, João Lourenço, e concentrá-lo de maneira excessiva nas mãos do líder do partido.
Em seu parecer, Venâncio argumenta que as alterações propostas aos estatutos do MPLA, particularmente no que diz respeito à nomeação de candidatos para a presidência e vice-presidência da República, criam um clima que favorece uma eventual candidatura única de Lourenço, sem espaço para outras alternativas. “O presidente João Lourenço está, de forma subtil, a criar um ambiente em que as candidaturas múltiplas dentro do MPLA se tornam inviáveis. Ele propõe uma agenda de trabalho ao seu Bureau Político que, na prática, altera os estatutos para permitir que ele nomeie não apenas os candidatos a Presidente e Vice-Presidente da República, mas também o presidente da Assembleia Nacional, ministros e outras figuras chave do Estado”, disse Venâncio.
Segundo o pré-candidato, a mudança nos estatutos implica uma concentração de poder nunca antes vista, que colocaria Lourenço não apenas à frente do partido, mas também do Governo e das principais instituições do país. “Com essas alterações, João Lourenço passaria a ter controle total, não só do partido, mas também de todos os órgãos do Estado. Ele se tornaria uma espécie de líder totalitário, com poder sobre o executivo, o legislativo, e até mesmo o judiciário”, alertou.
Venâncio ainda destacou que, com essas mudanças, o presidente do MPLA se tornaria indiretamente o responsável pela indicação de figuras-chave como os ministros da Defesa e do Interior, e até mesmo os responsáveis pelos órgãos de segurança. “Isso criaria uma bicefalia perigosa em que o presidente do partido dominaria tanto o MPLA quanto o Estado, sem a necessidade de um terceiro mandato”, afirmou, referindo-se às especulações sobre uma eventual candidatura de Lourenço a um terceiro mandato, algo que o atual presidente tem negado.
Um Apelo à Defesa da Democracia Interna
O pré-candidato também criticou as recentes deliberações do MPLA como sendo ilegais e contrárias aos princípios democráticos internos do partido. Ele mencionou que a proposta da agenda de trabalho para o VIII Congresso Extraordinário, aprovada pelo Comité Central em 25 de novembro, viola flagrantemente os estatutos do MPLA, especialmente no que tange ao processo democrático de escolha dos candidatos. “Não podemos permitir que o futuro candidato à presidência da República seja escolhido de forma centralizada e sem o devido processo interno. A eleição interna deve ser transparente, justa e livre, respeitando os valores democráticos estabelecidos pelo atual artigo 120º dos estatutos do MPLA”, disse.
Venâncio reforçou que o futuro candidato do partido ao cargo de Presidente da República deve ser aquele que, por mérito próprio, vencer as eleições internas, sem qualquer tipo de imposição ou interferência. Ele ainda declarou que nenhuma tese de grande importância pode ser debatida em um congresso extraordinário, que deveria, na sua opinião, ser reservado apenas para questões pontuais. “Os dois pontos principais da ordem de trabalho do congresso extraordinário não são adequados e devem ser discutidos no próximo Congresso Ordinário, em dezembro de 2026”, afirmou.
A Luta Pela Democracia
Venâncio concluiu o seu parecer com um apelo à defesa da democracia e à preservação dos estatutos do MPLA como uma conquista fundamental para a organização interna do partido. “Esta será a minha luta, uma luta longa e difícil, mas que será, sem dúvida, gloriosa, em homenagem aos anseios da esmagadora maioria dos militantes do MPLA e dos angolanos democratas, que acreditam numa Angola melhor e mais justa para todos”, afirmou.
Com seu posicionamento, António Venâncio se coloca como uma figura de resistência às mudanças que considera prejudiciais à democracia interna do MPLA e ao futuro político de Angola. O seu compromisso é com a manutenção dos valores democráticos dentro do partido e, por consequência, no país.