ANGOLA EM BUSCA DE UMA DIPLOMACIA DE MÚLTIPLOS VECTORES

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Com o mundo em turbulência com os conflitos da Ucrânia e do médio-Oriente e praticamente a um mês do termo do seu mandato como Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden chega a Angola dentro de dias, para uma visita de trabalho de dois dias, a convite do seu homólogo, João Lourenço. Duas curiosidades envolvem este evento, que está a mobilizar as autoridades angolanas, empenhadas em impressionar positivamente o ilustre visitante, com a realização de obras urgentes destinadas a melhorar a imagem da caótica capital, Luanda, uma metrópole envolvida por uma impressionante cintura de aglomerados satélites e com mais de 10 milhões de habitantes. Na tradição das sociedades africanas, por mais pobre que alguém seja, deve vestir a sua melhor roupa e tornar a sua casa aprazível e limpa, para acolher um visitante.
A primeira nota curiosa é que esta será a última deslocação de Joe Biden ao estrangeiro, como estadista. As eleições nos EUA terão lugar no próximo dia 5 de Novembro. A segunda é que, em praticamente meio século de existência como nação independente, será a primeira vez que a antiga colónia portuguesa recebe, no seu solo, um presidente americano.
As relações diplomáticas entre os dois países normalizaram em 19 de Maio de 1993, durante o mandato do Presidente Bill Clinton, quando os EUA reconheceram o governo de Angola e o presidente José Eduardo dos Santos.
O programa da visita ainda não foi, revelado pelas autoridades angolanas, mas será pouco provável uma deslocação de Biden para fora de Luanda, mas se a houver, será certamente para a província de Benguela, onde está a ser implementado numa parceria entre os dois países, o estratégico projecto do “Corredor do Lobito”, vaticinou uma fonte ao NJ.
Através do “Lobito Corridor”, a América projecta aceder aos abundantes recursos naturais, sobretudo minérios, existentes no chamado “cooper belt” em territórios encravados da República Democrática do Congo e da Zâmbia, usando a linha do Caminho de Ferro de Benguela que atravessa toda a região centro de Angola até ao porto do Lobito, na costa atlântica, numa extensão de cerca de mil e 200 quilómetros.

Uma visita a despertar expectativas diferentes nos dois países, que se encontram em diferentes estágios de desenvolvimento e que durante muitos anos partilharam visões antagónicas nas relações internacionais. De um lado, os Estados Unidos, a maior potência mundial à nível económico, industrial e militar e do outro lado, Angola, uma nação africana saída de um conflito armado, classificada como nação em vias de desenvolvimento, mas com uma economia totalmente dependente da exportação de uma única “commoditie”, o petróleo, responsável por quase noventa por cento das receitas anuais e a existência de uma corrupção endémica que grassa em praticamente todos os sectores da sua administração.
Joe Biden chega a Angola, numa altura em que o cenário geo-político no mundo se tornou extremamente volátil e, como consequência, ficou sujeito a mudanças rápidas e imprevisíveis.
Embora se verifique uma dinâmica de pressão para a tomada de partido em determinados contextos geo-políticos, Angola tem procurado manter uma postura equilibrada, o que lhe permite explorar as diferentes oportunidades de encetar laços de cooperação com diferentes estados e outros actores internacionais, com base no respeito pelo direito internacional
No caso, as alterações que se estão a produzir nas relações internacionais, tornam possível a oportunidade de os dois países estreitarem as suas relações, com foco numa cooperação estratégica com reflexos positivos no desenvolvimento de outros países da região.
A abordagem conhecida como Diplomacia de Múltiplos Vectores tem sido adoptada por muitos países em desenvolvimento, que procuram maximizar as suas oportunidades económicas e políticas com base na prossecução do seu interesse nacional.
Entretanto, Segundo alguns observadores, Angola deve observar alguns cuidados, na gestão da sua política externa, face a expectativa de uma mudança na administração americana, com a putativa eleição de Donald Trump, em 5 de Novembro de 2024. Ao contrário de Joe Biden, a Administração Trump (2017-2021) não incrementou durante o seu manto, quaisquer programas de relações estratégicas com parceiros do continente africano.
Pelo contrário, a presidência de Trump foi marcada por um gradual desengajamento americano em relação aos problemas africanos, mantendo apenas como prioridades o combate aos grupos da jihad nos Camarões, no Níger, na Nigéria e o controle da região da Somália. No restantes cenários, observou-se um desligamento quase completo, até ao fim do mandato do presidente, sendo substituído pelo veterano da política americana, o antigo senador democrata Joe Biden.
Em Agosto de 2022, a Administração Biden publicou um documento intitulado “Nova Estratégia Americana para África”. O documento trouxe elementos inovadores na política americana em relação ao continente africano, colocando-a nas prioridades globais para os próximos anos. Altos funcionários e mandatários realizaram inúmeras viagens ao continente, com destaque para os secretários da defesa Loyd Austin e o secretário de Estado, Antony Blinken.
No quadro dessa nova estratégia, a administração Biden demonstrou um interesse renovado em fortalecer as relações com os países de África, inclusive por meio de compromissos com questões no âmbito da saúde pública, da segurança alimentar e do desenvolvimento económico e da cooperação multilateral.
Ao buscar uma parceria estratégica com os Estados Unidos, Angola procura diversificar o leque das suas relações internacionais e ampliar as opções de cooperação económica, diplomática e de segurança. Isso veio reflectir o reforço de uma política externa focada na redução da dependência de um único parceiro global.

CRÉDITOS:NOVO JORNAL

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